Exposição junta o mundo do hip hop com o universo dos super-heróis

25 de setembro de 2023

por Paulo Pastore

“Pro povo ter reis no espelho, minha caneta cria”. Se na letra “Pantera Negra”, Emicida traz os quadrinhos para o mundo do Rap como forma de celebrar a história do povo negro, os artistas Load e Wagner Loud, fazem o caminho inverso – com o mesmo objetivo – ao transformar simbólos do Rap brasileiro em heróis de gibis. O resultado dessa iniciativa é exposição “Rap em Quadrinhos”, que ocupa o Espaço Cultural Periferia no Centro, na sede da Ação Educativa.

O trabalho que transformou Mano Brown, Emicida, Negra Li, Drik Barbosa, Sabotage e outras referências do Hip Hop nacional em super-heróis fica aberta a visitação entre os dias 25 de agosto a 25 de outubro.

Para Loud, expor o trabalho em um espaço como o da Ação Educativa é bastante significativo, tanto por ser uma forma de levar a arte e conhecimento para o público, como por permitir, através da relação presencial entre obra, público e artista, gerar debate e inspiração. Ele explica que o projeto Rap em Quadrinhos é um divisor de águas na sua vida e na sua carreira.

“Pra mim foi o maior projeto que já fiz na minha carreira. Desde 2018 tenho rodado com o projeto e isso me abriu muitas portas no meio artístico e corporativo. Sem dúvida, se não existisse o Rap em Quadrinhos” eu não seria o profissional que sou hoje”, declara. 

As ilustrações têm como referência capas célebres de quadrinhos das companhias Marvel e da DC, e unem elementos da história, personalidade, além da forma de compor e se apresentar dos artistas homenageados, com os dos heróis. 

“A primeira capa foi o Emicida como Miles Morales. Assim como o Miles Morales, representa a nova geração do homem-aranha, o Emicida representa a nova geração do Rap. Seguindo essa linha, a gente relaciona o Brown com o Pantera, o primeiro sempre representou o Capão, o segundo representa Wakanda. As ligações de cada artista com  os personagens vão da personalidade, de coisas em comum.”, explica Load.

Para os artistas, a história do rap e dos quadrinhos sempre foi marcada como algo meio marginalizado, colocado de lado. Para muitos o Rap não era uma música de qualidade e nem os quadrinhos poderiam ser vistos como artes “As capas que nós criamos mostra que existem clássicos no rap e clássicos nos quadrinhos, são duas mídias que, historicamente, eram deixadas de lado”, explica Load.

Sobre o processo criativo, Load conta que ele é resultado de uma troca de ideias constante entre a dupla. “Eu sou responsável pela ligação das personalidades, escolho o herói e o MC, aí converso com o Loud e, quando chegamos em um acordo, ele desenha. É bem como criação de uma HQ: eu sou roteirista e ele o quadrinista”, explica.

Além do sucesso com o público, o projeto chegou até os artistas homenageados, que acabaram ajudando na repercussão do projeto, Wagner revela que quase todos os artistas homenageados entraram em contato com eles, em comentários ou compartilhamentos. “Se chegou neles, que são os homenageados, e eles gostaram, quer dizer que nosso trabalho tá dando certo”, celebra.

Na visão de Load, o sucesso do “Rap em Quadrinhos” é resultado do processo de estabelecer essa ligação entre o mundo do rap e o mundo dos quadrinhos, de não ser apenas escolher alguém famoso do rap e desenhá-lo na capa de um gibi.  Foi assim, por exemplo, que Sabotage virou o Doutor Manhattan.

“A gente via muita gente desenhando o Sabotage na pele do Super Choque, principalmente por causa do corte de cabelo com os dreads. Só que a gente foi por outro caminho, o Doutor Manhattan é um personagem que tem uma passagem curta na história, mas que chega, com muito poder e muda tudo. Foi a mesma coisa que o Sabotage fez no rap nacional, deu a linha, criou marcos, mas infelizmente partiu muito cedo”, pontua Load.

Serviço:

Exposição “Rap em Quadrinhos”, no Espaço Cultural Periferia no Centro

Abertura: 25 de agosto, às 19h

De segunda à sexta, das 10h às 18h, até 17 de maio de 2023

Entrada franca

Endereço: General Jardim, 660 – Vila Buarque – São Paulo – SP