Exposição narra a herança indígena e negra na construção do sujeito periférico na cidade de São Paulo

24 de janeiro de 2024

Inaugurada no dia do aniversário da cidade de São Paulo, a exposição ‘Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo’ reúne mais de 300 objetos entre fotografias, pinturas, vídeos, instrumentos musicais e figurinos de diversas linguagens artísticas produzidos por mais de 100 artistas paulistanos nos últimos 40 anos.  A exposição, idealização e realização do Museu da Cidade, tem conceituação e curadoria da empresária Adriana Barbosa, o jornalista Nabor Jr. e o historiador Eleilson Leite, em colaboração com a líder indígena Jera Guarani.

Eleilson Leite explica que a Exposição tem o objetivo de narrar uma representação da periferia paulistana na contemporaneidade, especificando as dimensões da negritude e indígena presentes nesse espaço político, geográfico e social.

“O periférico, indígena e os negros e negras, cruzam a periferia e revelam um rica diversidade que se cruza o tempo todo, ou seja, se intersecciona. A exposição é um convite à intersecção tratada como verbo: interseccione-se. mas, para que as intersecções se manifestem, é necessário mostrar as especificidades e cada segmento tem seu espaço.

Talvez, falar de negro, indígena e periférico hoje é fazer uma atualização da canção “canto das três raças”, de Paulo Cesar Pinheiro e Mauro Duarte. Buscamos retratar a “gradeza épica de um povo em formação”, como dito por Caetano e Gil, pontua Leite.

Em formato imersivo e cronológico, a exposição teve o cuidado de conectar de forma simétrica os conceitos de negritude, periférico e indígena, sem sobrepor uns aos outros, compreendendo essas zonas de cruzamento e horizontalidade

“Jovens de Paraisópolis e Heliópolis foram contratados como fotógrafos e videomakers para retratar elementos importantes das realidades locais, como um fluxo ao vivo. Para se adentrar a um fluxo precisa de fato pertencer àquela comunidade, não teríamos conseguido registros audiovisuais de um baile sem sujeitos que fazem parte de lá, e tivessem esse endosso para fazer uma cobertura audiovisual dessa realidade tão rica e própria das periferias”, relata o curador Eleilson Leite. Além dos registros dos fluxos, a exposição também irá proporcionar um ambiente cenográfico do Sarau Elo da Corrente, a partir de uma foto-mural do sarau, e do som ambiente que gravado no próprio evento, possibilitará essa vivência como se os visitantes estivessem nele de verdade.

Situar o público de que o povo indígena está às margens da cidade, e por isso também compõe sua periferia, irá possibilitar o acesso à conhecimentos como o fato de que somente no município de São Paulo existem mais de 20 aldeias, e inclusive uma cachoeira. No núcleo indígena, também irá ocorrer a reprodução de uma casa de rezas, com áudios gravados da aldeia guarani Tekoa Kalipety. E até mesmo proporcionar o contato visual com elementos naturais da aldeia, como a água da cachoeira Capivari da terra Tenondé, que é a única e última com água limpa dentro do município de São Paulo.

Território, sujeitos e imaginário

Setorizada em três eixos que convergem entre si, a exposição apresenta relevantes movimentos artísticos e culturais que contribuíram não somente para fomentar as narrativas negras, indígenas e periféricas na cidade nos últimos 40 anos, como também foram fundamentais para a construção do que entendemos como cultura paulistana nos dias de hoje.

Lúdica, sensorial e educativa, a exposição irá proporcionar aos visitantes revisitar memórias e reconhecer o processo de formação de identidades e movimentos culturais a partir destes três eixos.

“Não queríamos fazer algo exaustivo. Tínhamos que encontrar sínteses. Para isso organizamos a exposição em três eixos: territórios, sujeitos e imaginários. Território é uma categoria espacial que tem conotação econômica, social, mas, sobretudo sujetiva. No universo da cultura as fronteiras dos territórios vão até onde as relações de afeto alcançam. Para o periférico, o território é aquele contexto que ele enxerga do alto de sua laje; para os negros, território é o lugar de encontro, lugar de se aquilombar e por isso, transitório”,

É nesta seção que o público será convidado a experimentar um pouco das histórias do bailes black, a estação do Metrô São bento,  como o quilombo urbano Aparelha Luzia, o Museu Afro Brasil, o Centro Cultural Quilombaque, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, a Feira Preta, o Festival BixaNagô e rodas de samba como o Pagode da 27 e o Samba da Vela.

Já o núcleo “sujeito” joga foco sobre os movimentos sociais e culturais. “Retratamos as duas maiores favelas de São Paulo: Heliópolos e Paraisópolis, tanto pra falar da luta por moradia destacando a atuação dos dois líderes: Gilson Rodrigues( Paraisópolis) e Cleide Alves ( Heliópolis), mas também os fluxos que mobilizam a juventude nesses dos territórios tão emblemáticos da periferia. Destacamos as ocupações culturais, rodas de samba, os botecos, o futebol e a laje como espaço de lazer.”

Complementando a divisão da mostra, o “imaginário” é onde está o simbólico e a produção artística. “Nesse eixo está a religião, ancestralidade, a qual, na verdade, permeia toda a exposição.”

SERVIÇO

Inauguração exposição Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo’

Local: Solar da Marquesa de Santos e Casa da Imagem/Museu da Cidade de São Paulo Endereço: R. Roberto Simonsen, 136 e 136B – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP, 01017-020

Inauguração: 25/01, 14h-16h

Período de visitação: Terça a domingo, das 09h às 16h, até 28/07

Sobre Museu da Cidade de São Paulo

O Solar da Marquesa de Santos e a Casa da Imagem, espaço onde a exposição está em cartaz, localizados no centro histórico da capital paulista, estão entre as 13 unidades do Museu Cidade de São Paulo, que tem como sede o Solar da Marquesa dos Santos. Identificado com a categoria de museu de cidade (ICOM/UNESCO), além de seus acervos institucionais, o Museu toma a cidade e seus territórios como acervo operacional, sob a ótica interdisciplinar com várias abordagens teóricas, como arquitetura, história, sociologia e arqueologia.