Siririca: “Lutamos para que nossas filhas, sobrinhas e as mais novas possam ter apenas motivos para comemorar no futuro”

27 de julho de 2022

 

 


O ponto de equilíbrio entre lutar contra opressões e comemorar as conquistas. Essa é uma forma de resumir como Kenya Odara, do coletivo Siriricas, entende o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado no dia 25 de julho.


Kenya lembra que o Siriricas surgiu em grupo de whatsapp, quando diversas mulheres reuniram-se para falar sobre experiências sexuais, trocar dicas e se apoiarem. “Conforme o tempo foi passando, as pessoas foram saindo, percebemos que só as mulheres negras continuaram. Então começamos a estreitar mais nossas conversas, falar sobre temas que nos atingiam de forma diferente”, conta.

 

O Estéticas das Periferias conversou com Kenya no contexto do evento “Vamos galera, LGBTQIAP+”, que rolou no prédio da Ação Educativa, no início de Julho. O evento contou com a participação de 18 coletivos, com atuação política e cultura dentro desta pauta.  Além da história do coletivo, Kenya fala sobre a importância do diálogo entre grupos LGBTQIAP+ e também como a prática de esportes tornou-se algo central nas atividades do Siriricas.

 

Para o coletivo Siriricas, o que representa o “Julho das Pretas”?
Representa um movimento muito importante que ressalta o protagonismo de mulheres negras em diversos aspectos, fortalecendo e estreitando laços. O dia 25 de julho marca o momento que temos mais força enquanto coletivo para expor nossas ações, celebrar nossa existência e conquistas. Lutamos diariamente então é essencial não deixarmos de aproveitar para comemorar todos nossos marcos até aqui. Isso nos impulsiona para continuar enfrentando as adversidades e abrindo caminho para que nossas filhas, sobrinhas, irmãs mais novas possam ter apenas motivos para comemorar no futuro.

Qual a importância de espaços como o que rolou na Ação Educativa?

É uma importância muito significativa termos a oportunidade de nos juntar e trocar, sentir a vontade de expor nossas vivências com pessoas semelhantes. E mesmo com as semelhanças, identificar diferenças que também podem agregar na nossa construção pessoal e coletiva. Principalmente depois da pandemia também, sentir esse afeto de forma presencial faz muita diferença, dá um gás na nossa rotina.

O diálogo entre coletivos e grupos LGBTQIAP+ é constante? Como se dá esse diálogo e quais os benefícios deles?

Nós tentamos fazer ser constante mas sinto que é um ponto que ainda precisamos melhorar, no sentido de intensificar mais as discussões, sair um pouco da nossa bolha e trazer mais pautas sobre isso com outros grupos pra galera que nos acompanha. A gente tem internalizado muito algumas discussões quando poderíamos abrir um ‘espaço’ para ouvir e impulsionar outras falas. Sabemos que o benefício disso é a sensação de pertencimento, conforto, apoio. Se conseguimos fazer isso umas com as outras podemos fazer isso entre outros coletivos também.

 

Conte um pouco sobre o coletivo “Siriricas”? Como surgiu a ideia de criá-lo? Quem compõem o coletivo?

A ideia do coletivo surgiu com um post no twitter tentando juntar mulheres para conversar sobre experiências sexuais, dicas etc. Criamos um grupo no whatsapp com mais de 30 mulheres (brancas, negras, lgbtqia+, hetero etc) e fomos trocando sobre isso. Conforme o tempo foi passando o grupo foi diminuindo e coincidentemente só restaram mulheres negras então começamos a estreitar mais nossas conversas, falar sobre temas que nos atingiam de forma diferente. Daí veio a ideia de criar o podcast para compartilhar com outras mulheres nossas questões, e resultou no que somos hoje. O coletivo atualmente é composto por 7 mulheres: Amanda Porto, Ana Beatriz, Beatriz Stefany, Flavia Alves, Karina Queiroz, Kenya Odara e Taina Lopes

Especificamente sobre a temática do esportes, vocês estão organizando grupos de corridas,certo? Como eles tem funcionado? Como surgiu essa ideia e quais tem sido os resultados delas?

Nós fomos convidadas pela adidas no ano passado a formar uma comunidade de corrida dentro do projeto adidas runners, eles acharam que a ideia do siriricas casava muito com a proposta do projeto e nós vimos ali também uma oportunidade de mostrar pra outras mulheres que podemos estar em qualquer lugar. O objetivo dos nossos treinos é o bem estar, colocar a atividade fisica na nossa rotina de maneira leve e divertida, sem focar em emagrecimento ou algo do tipo. Um momento de auto cuidado com as nossas. O resultado tem sido muito legal, já criamos diversos laços por conta da corrida, conhecemos pessoas e lugares diferentes também. Acreditamos muito na força que o esporte tem em mudar nossa vida. Sempre no final do treino vamos tomar café juntas com a galera que colou pra continuar fortalecendo esse laço, é um momento muito importante pra nós, até brincamos chamando de “terapia em grupo”.

De quando o coletivo começou a existir para agora, como vocês avaliam a receptividade e o alcance do discurso do “Siriricas”?

Foi uma surpresa para todas nós e ainda é, os lugares que a gente alcança por conta do coletivo. E não digo só espaço físico, de estar em eventos e tudo mais, mas o lugar na vida das pessoas também. As mensagens de agradecimento que nós recebemos, sugestões de pautas pra gente discutir sobre. Mostra que as pessoas confiam na gente pra ser porta voz desses assuntos e ter esse reconhecimento e confiança é muito bom. Sinto que a gente consegue fazer a diferença e promover isso com o intuito de mudar um pouco nossa realidade trazendo o bem de volta para todas as pessoas que nos impulsionam.