27 de outubro de 2020
“Pipa, Arraia, Papagaio, Curica, Pandorga”, são muitos os nomes atribuídos a esse brinquedo que, além de emprestar cor e vida aos céus de São Paulo, é a “cara” e a “imagem” de todas as edições do Encontro
Estéticas das Periferias
Completando 10 anos de existência, o Estéticas das Periferias segue buscando reunir e celebrar a arte periférica dos territórios paulistas. Para Eleilson Leite, idealizador e coordenador do evento, a arte periférica, assim como as pipas, é um “alento, um sinal de esperança, de encantamento, enquanto um dá sentido à vida dura, o outro empresta beleza ao céu cinza”.
Na célebre canção “Olha a pipa”, Jorge Ben Jor canta “Naquele campo verde que ainda existe; Longe dos fios elétricos; Eu vou soltar a minha pipa, eu vou”. Quem já foi um menino ou menina com uma pipa, ou pelo menos já viu uma criança controlando um pipa com uma linha, logo tem vontade de reviver ou rever essa cena, são poucas as pipas e são poucos os lugares longes dos fios elétricos nas grandes cidades.]
Sérgio Vaz, vê a pipa como um pássaro de papel, que apesar de “longe da gaiola”, tem a “liberdade vigiada pela linha de carretel”. Na busca pela “Fórmula Mágica da Paz”, Mano Brown, ao sentir a brisa da manhã e vendo o sol nascer, se lembra “É época de pipa, o céu está cheio, quinze anos atrás eu tava ali no meio”.
Essa brincadeira “analógica”, que exige habilidades ainda não captadas pelo mundo virtual, é também poesia.
Empinar pipa é disputar os céus, é se manter no espaço. E isso tem a ver com a dinâmica da periferia, onde se luta pra sobreviver no dia a dia. É correria.
A pipa assim, é uma metáfora da quebrada. É um traço de identidade, é como aquelas antenas gigantes que só tem no fundão da cidade. São como os tênis nos fios de eletricidade, as rodas de samba, o fluxo do funk, o mutirão para encher laje, o som do Racionais que sai dos falantes do opalão customizado. A pipa é como o churrasquinho na laje, a feira de sábado, criança na rua jogando bola. A pipa é cultura de periferia de cabo à rabiola.