Do sonho de participar do Estéticas das Periferias à autora do selo da 12ª edição do encontro, a persona criada por Laís Oliveira foi a vencedora do concurso de Criação do Selo da 12ª edição do Encontro Estéticas das Periferias – Orgulho e Resistência, que coloca a cena ballroom na centralidade da curadoria, programação e produção de conhecimento deste ano. Lais Oliveira é designer, mulher negra e lésbica, criada na comunidade na São Mateus, Zona Leste de São Paulo.
“A seleção foi uma forma de incentivar e garantir que pessoas da comunidade LGBTQIAP+ participassem do evento em todas as dimensões do seu processo de produção”, explica Juliane Cintra, coordenadora de comunicação do Estéticas,
Definindo-se como uma “Mulher Lésbica Sapatão”, Lais constrói sua arte com o objetivo de valorizar a população LGBTQIAP+, a partir de seus corpos, sem ignorar a diversidade e multiplicidade das pessoas que compõem essa sigla.
De acordo com a artista, “o desenho traz elementos da cultura ballroom em seus movimentos e cores. A persona se propõe a questionar binarismos de gênero lembrando que são corpas fora da norma que fazem o movimento acontecer com orgulho e resistência”.
Na entrevista para o site do Estéticas das Periferias, a vencedora do concurso fala sobre como foi receber a notícia de que havia sido a escolhida e sobre o processo de criação do selo. Ela também conta como as questões de gênero e raça apresentam-se na sua trajetória e partilha as estratégias que têm posto em prática para seguir na “sua luta diária”.
Por quê você se interessou em concorrer para o concurso do selo do Estéticas 2022? Qual foi a sensação de ter sido selecionada?
Eu sempre tive vontade de fazer parte de alguma forma do Estéticas, me vejo muito nesse projeto. Veio essa oportunidade e não deixei passar. Quando eu abri o e-mail fiquei muito emocionada e feliz, foi muito importante saber que meu trabalho faz sentido para o Estéticas.
A sua arte apresentou uma pessoa não-binária. Qual foi a sua inspiração? Que mensagem você espera que esse selo transmita?
A proposta tem como objetivo a valorização da comunidade LGBTQIAP+, como um coletivo diverso e interseccional. O desenho traz elementos da cultura ballroom, em seus movimentos e cores. A persona se propõe a questionar binarismos de gênero lembrando que são corpas fora da norma que fazem o movimento acontecer com orgulho e resistência. Por fim, a arte também busca representar estas corpas na periferia.
Qual a sua identidade (ou como você se posiciona) dentro da sigla LGBTQIAP+? Você entende que a existência dessa sigla representa a existência de uma união, de apoio entre quem a constrói?
Sou uma Mulher Lésbica Sapatão. Entendo que sim, inclusive, fazer parte do bloco afro Ilú Obá de Min, me mostrou muito sobre união, cuidado e apoio. Pois ser lesbica, ”caminhão” é uma luta diária.
– É possível dizer que existe uma arte ou uma forma de expressão LGBTQIAP+? Por que sim ou por que não?
Eu acho que existem várias formas de expressões artísticas, afinal podemos ser quem quisermos ser, isso não significa que seja fácil, não podemos romantizar.
– Existe espaço para as pessoas LGBTQIAP+ dentro da produção artística? Dentro do mundo do design?
Existir até existe, mas é difícil ver essas pessoas em posição de liderança, ainda mais no mundo do Design, que é muito branco. Nesses quase 10 anos como designer, nunca tive uma liderança LGBTQIAP+ e muito menos negra, sempre foram pessoas brancas reconhecidas por seus sobrenomes e por estudarem em escolas caras. Uma das coisas que me move em ser designer e diretora de arte é que eu posso ser referência para uma ou outra mina preta LGBTQIAP+.
– Poderia contar um pouco da sua trajetória?
Sou artista visual, designer, diretora de arte e pesquiso sobre a cultura dos orixás há 10 anos. Participei da oficina de Práticas Gráficas no CCSP em 2015 e desde então venho desenvolvendo minha arte através da técnica de Xilogravura. Desenvolvi a identidade visual de diversas organizações e iniciativas como do Guia Itinerário da Experiência Negra, da Ong Ilú Obá de Min, Preta Rainha, Narrativas Negras, Preto Império, Rótulo Cachaça Matodentro Reserva do fundador. Ilustrei os livros Negros e Alvos, de Monahyr Campos e Sangria, de Luiza Romão. Em 2019 tive a oportunidade de realizar a minha primeira exposição individual Obirinxá, que reuniu 12 xilogravuras sobre os Orixás Femininos e que foi selecionada para participar da 1ª Bienal Black Art Brazil, em Porto Alegre. No mesmo ano fui convidada a compor o time de artistas colaboradores para a Revista Omenelick 2ato edição021.