Uma festa que é religiosa e também é pagã. Uma comemoração dos grandes centros e das vilas isoladas. Uma festa nordestina, comemorada em todo o Brasil. A festa de São João é uma das celebrações populares mais famosas e capilarizadas do país. Em homenagem ao apóstolo João Batista, o dia 24 junho, virou sinônimo de alegria, comida típicas e música.
O Estéticas das Periferias conversou com Tiririca, ou Daniel Paulo, que é marcador da quadrilha junina “Linda Flor do Sertão”, localizada no bairro de Mangabeira, periferia de João Pessoa-PB.
“A festa de São João nasceu com a celebração das boas colheitas, resultado do tempo das chuvas de maio. Este momento de comemoração da fartura da comida significa um motivo de alegria, de festa do nordestino que tem o pé no chão e força para superar as dificuldades”, explica.
A data, que é feriado em diversas capitais e cidades do nordeste, ganhou diversas regiões do país. Para Tiririca, as festas juninas tornaram-se populares porque ao mesmo tempo que representam a história e resistência do povo nordestino – por isso sendo tão marcantes na região – produzem músicas, diversão e uma alegria que conquistou todo o Brasil.
Quem já visitou o nordeste, na época de São João, provavelmente já ouviu que em determinada cidade acontece o “maior São João do Mundo”. A maior rivalidade fica por conta da histórica disputa entre Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco. Com shows e apresentações que tomam conta de todos os finais de semana de Junho, entrando em julho, é comum que em um só dia circulem mais de 100 mil pessoas em cada uma das cidades. Ao longo das festas, os dois municípios recebem quase dois milhões de pessoas.
As quadrilhas juninas e a comunidade
“Linda Flor do Sertão”, da qual Tiririca é marcador, acabou de subir para o “Grupo A” das quadrilhas de João Pessoa. Durante o mês de Junho, são realizados diversos festivais de quadrilhas, as disputas consistem em verdadeiras eliminatórias, em ‘confrontos’ que acabam envolvendo até estados diferentes.
Ele lembra que atua como marcador desde 2006, mas que “desde sempre” fez parte de quadrilhas juninas. “Antes eu atuava coreografando, participei de toda base das quadrilhas. O marcador dá o ritmo, dá o tom da quadrilha, é uma atividade que me realiza demais”.
Os festivais de quadrilhas são responsáveis por mobilizar um enorme público durante as festas de São João. A exuberância das roupas e as criatividades das apresentações contam muito da história passada e do momento presente do nordeste, explica o marcador.
Além da celebração e da festa, Tiririca explica que as quadrilhas juninas têm uma importância muito grande para as suas comunidades. “As quadrilhas não existem só nos grandes festivais, elas fazem parte dos seus bairros, apresentam-se para os moradores, vão para as escolas. É um espaço de cultura importante para a periferia, realizando um trabalho de formação que significa muito para o São João”.
A tradição e o novo
Em uma festa com as raízes históricas tão presentes, a relação com a modernidade pode ser sempre um tema delicado. Para Tiririca, o segredo do sucesso do São João é conseguir desenvolver, simultaneamente, o passado e o presente.
“Se a gente perde o passado, a gente perde as nossas origens. Se a gente perder o novo, a gente deixa de avançar. As duas coisas precisam caminhar juntos, a gente não pode colocar todo o foco em uma coisa só”, avalia.
Por isso, para Tiririca, preservar o São João trata-se de manter a festa viva, sempre tento o cuidado que ela se mantenha uma expressão cultura inclusiva e diversa. Um dos caminhos para isso, aponta, está na troca de experiências entre as gerações, o apoio aos artistas independentes e aos coletivos tradicionais.
“Quando uma avó conta para seu neto como ela vivia o São João, falando sobre as músicas, as danças, a comida…isso desperta o desejo dessa criança viver aquilo. A experiência dela vai ser diferente, vai ser outra, mas vai estar ligada a este espiríto do São João”.
Afinal, lembra, essa sempre foi uma característica da festa. “O forró de Luiz Gonzaga não era o mesmo de Jackson do Pandeiro, mas ambos eram forró, ambos representam esse estilo”.
por Paulo Pastore