O Espaço Cultural Periferia no Centro abriu suas portas para receber o 1º desfile-performance da Agemó, dentro da programação da 12ª edição do Estéticas das Periferias. A grife liderada por Raulley de Oliveira e Ezio Rosa, tem como público alvo a população preta com peças pensadas para “o conforto de quem tem dreads, black power e afins.” .
O Estéticas das Periferia conversou com Ezio sobre a sensação de exibir as peças em um espaço com a presença massiva de corpas e corpos negros e LGBTQIAP+. Realizada no dia 01 de setembro, a experiência foi um convite para sair da zona de conforto e encarar o rosto dos “invisíveis” em um Desfile-Performance, que propõe a celebração da nossa arte e a reflexão sobre a marginalização dos corpos e trampos periféricos através da moda, música, poesia e exposição.
Além de falar sobre o processo criativo, sobre a elegância das quebradas, Ezio conta que a herança da Agemó está na costura de pessoas encarceradas, histórias como a da mãe e avó de Raulley, fundador da marca. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Clicando aqui você pode assistir o videoclipe do desfile FAVELA SEM ROSTO. Para acessar o perfil da Agemó, com os modelos e links para comprar as peças é so clicar aqui.
Qual a expectativa para o 1º desfile-performance da Agemó?
A nossa expectativa para o nosso primeiro desfile é a maior de todas, estamos sonhando com esse momento durante um bom tempo e para nós é muito simbólico que aconteça no Estéticas das periferias, uma vez que somos completamente influenciados pela moda da quebrada.
O que significa Agemó? Como surgiu a ideia de criar a marca?
Agemó é um camaleão muito conhecido na mitologia dos Orixás, a grife foi idealizada por Raulley de Oliveira, a fim de levar para frente os conhecimentos de costura e crochê que recebeu de sua mãe e avó durante o tempo que passaram no sistema carcerário. A Agemó foi fundada há quatro anos, mas só em 2020 que começamos a estruturar como um negócio real. A marca existe para gerar renda e também para manter viva a memória dessas mulheres.
Quem é o público alvo? Ou não existe esse recorte?
O nosso público alvo é a população preta, já que nossas peças para cabeça são desenvolvidas pensando no conforto de quem tem dreads, black power e afins. E como a nossa forma de fazer moda dialoga muito com a quebrada, nossas musas e musos que inspiram nossas criações são pretos.
Como é o processo de criação? Quantas pessoas estão envolvidas? Quais conceitos vocês querem transmitir?
Somos duas pessoas envolvidas em toda criação, Ezio e Raulley. O processo de criação se dá no dia a dia, andando pelas ruas, pegando ônibus e metrô. Nossa inspiração se dá em observar o outro. O conceito que queremos passar com esse desfile-performance é a elegância das quebradas.
Como o público LGBTQIAP+ é visto/tratado pelas marcas de moda atualmente? Existe uma relação de proximidade e respeito?
O público LGBTQIAP+ é visto sim por algumas marcas específicas, mas olhando para um panorama geral, essas pautas só existem em datas comemorativas como da parada do orgulho LGBTQIAP+. Tem rolado um movimento para que essa visibilidade não seja apenas em uma época do ano, mas ainda temos muito trabalho pela frente.
Poderia definir o que está dentro da ideia “elegância das quebradas”?
Elegância das quebradas é o estilo das ruas. A Agemó é marcada essencialmente por duas quebradas: Brasilândia e Cangaíba. Nossas criações partem das observações que fazemos circulando por esses espaços. Existem peças consideradas “chavonas” em todas as quebradas, é um consenso! Então a gente faz releituras dessas peças em crochê e pelúcia com pitadas de afrofuturismo.
O aumento de modelos negros em desfiles ou em peças de propaganda representa alguma mudança substancial do universo da moda em relação a pessoas negras ou não?
O mundo da moda está sem dúvidas passando por muitas transformações na perspectiva da raça. Mesmo sendo um espaço super engessado pela branquitude, existem muitos movimentos causando fissuras no conceito que temos de moda.
Periferia no Centro
A ideia da programação do Espaço Cultural Periferia no Centro é sempre trazer novos expoentes culturais, mobilizando coletivos e as inventividades de suas produções a fim de corroborar com uma maior circulação e visibilidade.
O território do centro funciona muitas vezes como um ponto de encontro de diferentes territórios, considerando o mote do Encontro Estéticas das Periferias, o espaço da Ação Educativa se apresenta como um espaço seguro para as diferentes corporeidades LGBTQIAP+
por Paulo Pastore
créditos foto: Carlão Pires