Ilú Obá de Min: bloco afro é tema de samba enredo campeão

3 de maio de 2022

Do Carnaval de Rua à Avenida do Samba. O bloco Ilú Obá de Min, reconhecido e premiado como uma das principais referências do carnaval popular de São Paulo, foi tema do Samba-enredo da escola Imperatriz da Paulicéia. E não deu outra, a força dos tambores junto com a energia da bateria levou ao título de Melhor Escola do Especial de Bairros.

A presidente da escola, Maralice Lazarini, celebra a alegria da vitória como resultado do trabalho duro e de muita dedicação da comunidade, além de brincar com o fato de agora as mulheres do Ilú Obá de Min também são “imperianas”.

“A nossa expectativa era alta pois tínhamos feito um ótimo desfile. Mas, mesmo assim, até saírem as notas, a ansiedade é muito grande”, confessa. “A força das mulhers do Ilú nos ajudou o tempo todo, temos que nos espelhar nessas mulheres que, mesmo sofrendo todos os tipos de discriminação, superam tudo com uma garra incrível! A Imperatriz carregará para sempre elas no coração e, eu já falei para a Bete inclusive, que agora todas elas são imperianas”

O samba enredo “Ilú Obá de min, mãos femininas que tocam o tambor” foi escrito por J. Velloso, Marquinho Beija-Flor, Júlio Assis e Fabiano Melodia, com projeto do carnavalesco Pedro Alexandre, o Magoo. A presidente da escola, Maralice Lazarini, conta que a ideia de homenagear a escola surgiu de uma conversa com Magoo.

“Nós queríamos fazer um enredo afro, mas queríamos falar do negro empoderado, mostrando toda a força que eles possuem. Quando falei para meu carnavalesco, ele me contou um pouco sobre o Ilú Obá de Min, a história do grupo representava tudo que queríamos contar”

Com ampla atuação no campo de defesa de direitos, sobretudo das agendas de gênero e raça, Micha Nunes, ekedy do Oxossi, percussionista do Ilu Obá de Min, bloco afroafirmativo de São Paulo integrante do Ilú Obá de Min, conta que a homenagem ou, como prefere o bloco, “femenagem”, representa uma recompensa de todo o trabalho e esforço do Bloco em lutar pela resistência e vivência da cultura africana.

“O Ilú Obá de Min homenageia a cultura, a religião, personalidades e mitos da nossa comunidade para eternizá-los, para trazer uma contranarrativa do apagamento da história sobre os nossos ancestrais. Quando somos homenageadas é a recompensa por esse compromisso de recontar, visibilizar, devolver a estima, enfim poder ressignificar as histórias e criar as nossas próprias narrativas”, observa.

 

A “femenagem” da Imperatriz da Paulicéia soma-se aos outros reconhecimentos que o Ilú Obá de Min tem recebido nos últimos anos, a exemplo do Salva de Prata – mais alta honraria concedida pela Câmara Municipal de São Paulo, entregue como reconhecimento a importantes serviços prestados a cidade.  O projeto Bloco Afro Ilú Oba De Min – Educação Cultura e Arte Negra já recebeu diversos prêmios públicos.

 

Para Maralice, o Carnaval é uma potente celebração que “demonstra a alegria e resistência do povo brasileiro”. Ela acredita que mesmo em períodos tão difíceis, mesmo em meio a uma pandemia, que deixou essa festa em suspenso, a resiliência daqueles que formam as escolas de samba, que lutam e vivem a cultura popular permitiu que mais uma vez – mesmo ‘fora de época’ – os desfiles voltassem a acontecer.

Além do convite para desfilar junto com a Imperatriz,   o Ilú Obá de Min desfilou em outras oportunidades no  sambódromo do Anhembi. Porém, Micha confessa que é uma emoção muito especial participar de um desfile em que o próprio bloco é tema, é uma mistura de acolhimento e orgulho por ter o trabalho reconhecido. 

 

“Com a Imperatriz foi confraternizar emoção, carinho, comunhão e orgulho de pertencer a um trabalho que estava sendo reconhecido. Às vezes de dentro, a gente fica achando que é um trabalho da gente pra gente mesmo. Quando ele ganha essa proporção é como se ele tivesse sendo eternizado, aclamado”, finaliza.